O governo federal mexeu nesta quinta-feira (3) nas regras da poupança. A 
mudança vale para os depósitos que forem feitos a partir de sexta-feira. 
Com a alteração, o atual piso de remuneração da mais tradicional modalidade 
de investimentos do país, de pelo menos 6% ao ano, que é assegurada desde 1861, 
poderá cair nos próximos meses. A mudança será proposta por meio de Medida 
Provisória.
Isso porque o governo anunciou que a remuneração da 
caderneta de poupança passará a ser atrelada aos juros básicos da economia 
brasileira. A decisão foi de que a poupança passe a render 70% da taxa Selic, 
que é fixada a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, 
mais a variação da Taxa Referencial (TR). A regra vale a partir desta 
sexta-feira (4), mas será aplicada somente quando os juros básicos recuarem para 
8,5% ao ano, ou abaixo disso. A aplicação continuará isenta do Imposto de Renda 
(IR).
Atualmente, a taxa 
de juros básica da economia brasileira está em 9% ao ano. A expectativa dos 
economistas, tendo por base sinalização 
do próprio Banco Central, é de que a taxa recue nos próximos meses. Quando 
os juros atingirem, por exemplo, 8% ao ano, a poupança renderá 5,6% mais TR. O 
objetivo do governo com a medida é permitir que a taxa de juros recue para um 
patamar mais baixo (compatível com a de países desenvolvidos) até o fim do 
mandato da presidente Dilma, em 2014.
100 milhões de cadernetas ativas
Segundo o ministro da 
Fazenda, Guido Mantega, há, atualmente, cerca de 100 milhões de cadernetas de 
poupança no Brasil, com aplicações acima de R$ 430 bilhões. "As cadernetas de 
poupança continuarão com a mesma versatilidade e simplicidade que possuem hoje. 
São instrumento de fácil aplicação, onde qualquer aplicador pode aplicar uma 
pequena soma em qualquer lugar do país. Não tem limite de aplicação. Qualquer 
soma pode ser aplicada a qualquer momento. A liquidez é diária. Se o aplicador 
precisar retirar uma parte do dinheiro, isso poderá ocorrer", declarou ele.
Novas aplicações
A mudança, que vale somente para novas 
aplicações, ou seja, para depósitos feitos a partir desta sexta-feira (4), tem 
por objetivo justamente proporcionar condições ao Banco Central para reduzir 
ainda mais os juros básicos da economia brasileira. Desde agosto do ano passado, 
com o novo agravamento da crise financeira internacional, o BC baixou os juros 
em seis ocasiões. A taxa, que estava em 12,50% ao ano, recuou 3,5 pontos 
percentuais.
Sem as alterações na poupança, uma queda mais forte da taxa de juros, abaixo 
de patamares mínimos já registrados (8,75% ao ano, registrado entre julho de 
2009 e abril de 2010), poderia comprometer a chamada "rolagem" da dívida 
pública, que é a emissão de títulos públicos pelo Tesouro Nacional para pagar os 
papéis que estão vencendo.
Na poupança, estava assegurado, pela regra antiga, o rendimento de 6,17% ao 
ano (0,5% ao mês) mais Taxa Referencial (TR). A modalidade de investimentos 
também não tem tributação do Imposto de Renda, diferentemente dos fundos de 
investimentos, nos quais a alíquota do IR varia de 15% a 22,5%, dependendo do 
tempo de aplicação.
Caso o rendimento da poupança se tornasse mais atrativo do que os fundos de 
renda fixa, a população, e até mesmo os grandes aplicadores, poderiam migrar 
para a caderneta - deixando o Tesouro Nacional com menos compradores dos títulos 
públicos (que são emitidos para pagar os papéis que estão vencendo).
Com 
os juros básicos em 9% ao ano, a poupança já tinha ganho mais atratividade, 
segundo levantamento da Anefac. Nas simulações e projeções feitas pela 
associação, com a Selic atual a poupança só perde para os fundos, independente 
do prazo de resgate, quando a taxa de administração cobrada pelos fundos for de 
0,50% ao ano ou inferior - normalmente para aplicações de valores maiores acima 
de R$ 50 mil.
Juros reais
Levantamento do economista Jason Vieira, da 
corretora Cruzeiro do Sul, em parceria com Thiago Davino, analista de mercado da 
Weisul Agrícola, mostra que os juros reais estão, atualmente, pouco acima de 3% 
ao ano. A taxa média de juros de 40 países pesquisados no estudo está negativa 
em 0,6% ao ano.